quinta-feira, 17 de setembro de 2009


Culinária Mato-grossense:


A cozinha matogrossense tem influências da culinária africana, portuguesa, italiana, síria e com a migração dos últimos anos também adquirimos o uso de pratos típicos de outras regiões brasileiras. Pratos considerados bem mato-grossense, são: Maria Isabel (carne seca com arroz ) o Pacú assado com farofa de couve, a carne seca com banana-da-terra verde, farofa de banana-da-terra madura.
O peixe em Mato Grosso é uma alimento farto, considerado como o principal nas áreas ribeirinhas. Ele pode ser comido frito, assado, ou ensopado, recheado com farinha de mandioca ou servido com pedaços de mandioca. Os peixes de mais prestígio nas mesas locais, são o Pacú, a piraputanga, o bagre, o dourado, a cachara, a geripoca, o pacupeva, o pintado, etc..
"Cê" "qué" "sabê" "mai" sobre essas delícia???Pois é,xô mano,então acesse meu "otro" blog "Mato Grosso em sua Mesa"(tá la no meu perfil!Não consigo "ponhá "o link,é que o formato do blog é tão "bão",que da certo! não!!Xá por Deus!)





Cultura:

Literatura

A partir de meados do século XIX, surgem no Estado de Mato Grosso
periódicos que, além do espaço reservado à política e à economia, apresentam colunas
literárias em que se privilegia a publicação de poemas. Diversos poetas do Estado,
colaboradores dessas edições, puderam ganhar notoriedade, firmando-se na literatura
regional. Nesse contexto, o poeta José de Mesquita, devido à expressiva colaboração
nos jornais e diante de sua autêntica expressão regional, destacou-se como autor de
inegável importância para a cultura mato-grossense.
Palavras-chaves: poesia mato-grossense, cultura, periódico, José de Mesquita.
O projeto de pesquisa A poesia publicada em periódicos mato-grossenses, O
Pharol e a Cruz (1910 A 1930): a cultura regional no meio jornalístico, oportunizou a
coleta e a análise de poemas de diversos autores de relevância para a cultura e a política
do Estado no início do século XX. Entre esses autores, destaca-se a figura de José de
Mesquita que teve significativa participação no periódico A Cruz. Os poemas dos
periódicos não desmentem as considerações da fortuna crítica, conforme comprovamos
na historiografia de Rubens de Mendonça, Hilda Dutra Magalhães, Lenini C. Póvoas,
Carlos Gomes de Carvalho. A crítica apresenta a cultura mato-grossense no meio
jornalístico e também nos demais meios de publicações, resgatando aspectos relevantes
da literatura produzida em/para Mato Grosso.
José de Mesquita destacou-se no meio jurídico e literário, tendo contribuído com
uma significativa produção como poeta, romancista, contista, ensaísta, historiador e
jornalista. Ao lado do bispo e poeta Dom Aquino Corrêa, Mesquita foi um dos autores
da primeira metade do século XX que mais produziu e mais se destacou, obtendo o
reconhecimento nas letras. Filiado à poesia clássica, o autor produzia sonetos, com uma
linguagem purista, marcada pelo didatismo. A preocupação em compreender o cotidiano
está explícita na poética mesquiteana, assim como descrever as regras da formação do
homem no seu papel de cristão regido pela simplicidade do bem viver.
O fato de Mesquita tratar desses assuntos sob uma visão filosófica restringiu a
expressão mergulhada na subjetividade dos românticos. Contudo, não se pode ignorar a outra fase de sua poética: a fase menos reflexiva, a apaixonada, do soneto com imagens
sensuais e de uma natureza idealizada que reflete a exaltação da paisagem local.
O crítico Carlos Gomes de Carvalho observou que essa se trata de uma fase de
Romantismo tardio na obra de Mesquita. Didaticamente, o período do Romantismo no
Brasil é situado a partir de 1836, com a publicação de Suspiros poéticos e Saudades (de
Gonçalves de Magalhães) até 1881, quando Machado de Assis publicou Memórias
póstumas de Brás Cubas. Contudo, sabemos que as características de um estilo de época
não podem ser limitadas a um determinado tempo; devemos refletir acerca das
características de cada autor e as influências sócio-culturais que podem orientar a
produção do artista para um estilo de época passado. Nas duas décadas iniciais do
século XX, quando a literatura dos grandes centros (do eixo Rio e São Paulo) já
manifestava sintomas de modernidade com obras de inspiração vanguardista, em Mato
Grosso ainda produzíamos obras com características romântica, parnasiana e simbolista.
José de Mesquita constitui um exemplo dessa diversidade estética que faz do
sincretismo uma característica de nossa literatura regional. Reconhecemos na obra do
poeta a capacidade de produção literária segundo as influências parnasiana, romântica e
simbolista.
Parte das manifestações culturais, datadas desde a fundação de Cuiabá, é fruto
do convívio de várias culturas: a indígena, a dos bandeirantes paulistas e a dos negros
escravos. São esses os diferentes grupos étnicos que dividiram o mesmo espaço na
capitania.
É através da literatura, pensada como parte das manifestações culturais, que a
camada elitizada, na primeira metade do século XX, expressa sua veia artística. Foi
nesse período que a cultura do Estado foi exaltada, predominando as manifestações
teatrais, a poesia e a crônica. A expressão de uma cultura literária foi representada por
nomes influentes também na política do Estado.
O poder político atua junto com o econômico. Na primeira metade do
século XX, as condições em que esse poder é exercido são
discretamente delineadas nos textos, sem, entretanto ocupar um
espaço verdadeiramente importante no conjunto artístico-literário do
estado. Isso revela, por um lado, a elitização, que faz com que a
manifestação artística se afirme como a voz do dominador, e, por
outro, a inexistência de consciência política na população como todo,
já que a arte manifesta valores do imaginário coletivo.
(MAGALHÃES, 2002: 23)
3 Diante dessa relação entre o político e o cultural, a literatura tornou-se nesse
período uma expressão da elite cuiabana, o que também se confirma na autoria dos
textos publicados nos periódicos.
Os discursos religiosos e políticos estavam impressos nas crônicas, nas poesias
que, geralmente, eram divulgadas nos jornais de Cuiabá. Ainda que se lembre que a
cidade era, neste início de século XX, praticamente isolada do resto do país, é
interessante notar que a capital vivia um momento de turbulência, com agitações
políticas, marcadas por disputas de territórios. Há nos poemas do período informações,
imagens que ressaltam esses acontecimentos, revelando uma poética marcada pela
apologia, a preocupação formal (com o uso de soneto), os eventos culturais, políticos e
sociais da época.
É nesse período que ocorrem as primeiras manifestações literárias na região,
autorizando-nos a referência a uma produção feita em e para o Mato Grosso. Candido
(2000) diferencia manifestação literária de literatura propriamente dita, argumentando
que a literatura apenas passa a constituir um sistema quando ocorre uma continuidade
ininterrupta de produção de obras, com um conjunto de autores e um público coeso. O
crítico considera que os chamados gêneros públicos, as atividades literárias em jornais e
as declamadas por oradores, tiveram importante influência nesse período de formação
literária. Nos ensaios, artigos e panfletos, o artista se tornava público e procurava
analisar a situação do país, formando o juízo do leitor e orientando a atividade do
homem público. Conforme o crítico, os folhetins foram essenciais na afirmação da
literatura nacional no período romântico, devido à fácil circulação ao alcance do
público. A literatura de Mato Grosso ainda sofria o anonimato com a falta de gráficas
locais para produção de livros, o que fez com que muitos escritores da região
recorressem a jornais e revistas para a divulgação de seus trabalhos.
Por ser a imprensa periódica o principal veículo de divulgação no século XIX até
início do século XX, muitos dos trabalhos literários produzidos encontraram públicoleitor
nos folhetins, e assim ganharam resistência e contribuíram para a consolidação da
literatura no Estado. Muitos jornais proliferaram; muitos poderiam até mesmo ser
chamados de boletins ou panfletos, mas houve também inúmeros que não passaram da
primeira publicação. Contudo, em todos eles podemos encontrar as produções poéticas
mato-grossenses. O poeta e crítico, Carvalho (2003) em seu livro A poesia em Mato
Grosso, observa como é curiosa a presença de páginas dedicadas à cultura e à poesia
nos jornais que circularam no Estado por meados da década de 50, mesmo com as
dificuldades da época. Diante dessa comprovada variedade poética, constatamos que a
cultura literária se singulariza pela influência da sociedade elitizada que publicava nos
folhetins.
O termo cultura, tomado em seu amplo sentido etno-gráfico, inclui
conhecimentos, crenças, arte, moral, leis costumes ou qualquer outra capacidade ou
hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade (TYLOR apud
LARAIA, 1997). Consideramos, portanto, que a cultura não é somente veículo de
expressão identitária, mas é a própria identidade de um povo.
É impossível estudar um fenômeno cultural sem considerar o espaço e o tempo
histórico em que as práticas surgiram e se tornaram tradição. No texto A literatura e a
vida social (1967), Antonio Candido enfoca os aspectos sociais envolvendo a vida
artística e literária nos seus diferentes momentos.
O crítico concebe a literatura como produto social que expressa as condições de
cada civilização em que se desenvolve. Na visão do crítico, é necessário considerar o
espaço, o tempo histórico no estudo da literatura e seus aspectos externos, que podem
nos auxiliar a entendê-la enquanto um sistema vivo de obras. Não poderia ser diferente
no estudo da literatura periférica que se forma no Estado. No periódico A Cruz, notamos
as manifestações que nasceram naquele período como resposta às exigências da
sociedade cuiabana.
Na análise do conteúdo jornalístico desse periódico, temos a influência religiosa
do catolicismo. Faz-se necessário lembrar que Mato Grosso, neste período, era
governado por um bispo, Dom Aquino Correa, e muitos poetas que produzem neste
momento tiveram influência da estética romântica e simbolista, estilos de época de
marca espiritualista e religiosa.
As manchetes comprovam a preocupação com o cotidiano e o bem estar
espiritual da comunidade. Podemos citar como exemplos de algumas manchetes do
jornal: Leituras Mattogrossense - Esboço da Historia de Matto Grosso; Evangelho do
dia; Enlaces; Batizado; Intronisação (divulgava a entrada e chegada à sociedade);
Exames (apresentava os que se iniciavam no estudo superior); Viajantes (divulgava as
personalidades que partiam ou chegavam à cidade); Seção desportiva;
Sociais/Aniversariantes; Espaço das propagandas.
Na divisão do jornal, há uma Página literária dedicada às publicações dos
autores locais. Os mais publicados foram poemas de Dom Aquino Correa e de José de
Mesquista - autores ilustres também no meio político. Muitos dos poemas de José de
Mesquita não foram catalogados e não constam em livros de poesia reunida, tampouco
em antologias. São, portanto, inéditos, resultado da compilação de nosso trabalho de
pesquisa nos periódicos.
Nessa análise, pode-se reconhecer que José de Mesquita apresenta na forma de
seus poemas traços parnasianos, românticos e simbolistas, mas sempre com imagens e
sentimentos da terra, assim como se presenciam em seus livros de poesia: Poesia, Terra
do berço, Epopéia mato-grossense, Três poemas da saudade, Escada de Jacó, Roteiro
da felicidade e Poemas de Guaporé. Compilamos no periódico A Cruz (de 1910-1930)
o total de 31 poemas, dos quais 16 são de autoria de José de Mesquita, com os títulos:
Ao meu filho Agenor, Civitas Mater, Noite na serra, A passagem do nocturno, Beira-derio,
Chapada, Mater dolorosa, O monjolo, O cruzeiro da aldeia velha, Árvore morta,
Felicidade bucólica, A.S. Francisco de Assis, A alma da das velhas casas, Missa das
cinco, Lausperenne, Alva.
A mensagem de sues poemas está sempre vinculada à paisagem, ao sentimento
de adoração e enobrecimento que marca a poética também de outros autores locais. No
poema Chapada, o poeta descreve o ambiente e as imagens características da região
cuiabana.
Ar leve, céu azul, virentes campos
Que aos grandes ventos do planalto ondulam.
Mattas por onde – diurnos pyrilampos-
Do sol os raios fulvidos pullulam:
Cerrados em que se abrem fructos lampos;
Caapões em flor que entre os plainos se insulam:
Águas nascentes a que os céus escampos,
Num bucólico idyllio, do alto osculam...
Ó sítios da Chapada em que tudo isto
Gozei e o mundo, como um sonho fosco,
Vi, entre as névoas vagamente visto,
Força me é neste instante vos deixar,
Na dor de não poder ficar convosco
E nem poder comigo vos levar

A paisagem é regional, com a descrição da chapada, não sob a ótica de sua
forma exterior e objetiva, mas por meio de um olhar subjetivo, através das sensações e
lembranças que sua visão desperta no sentimento do contemplador que a descreve
liricamente.
Conforme explica Emil Staiger, o estilo lírico nasce da recordação do sujeito;
por isso não necessita de conexões lógicas como a épica ou a dramática. Os momentos
líricos são feitos de aromas, impressões ópticas que pertencem à recordação. Quando
um aroma nos chega, a recordação instiga a memória e o momentâneo adquire força
exclusiva. Portanto, o sujeito lírico não se apresenta como individualidade, como pessoa
ou ser histórico localizado, mas como alguém que se sente na noite e na amada;
diluindo-se no exterior sentido (STAIGER, 1993).
A imagem dos grandes ventos do planalto ondulando, assim como a dos raios
fulvidos do sol brilhando demonstram o sentimento do poeta impregnado pela natureza
mato-grossense. Ao mesmo tempo, essa imagem idealizada evoca o sentimento
saudosista do sujeito poético que lamenta afastar-se de sua natureza mater. No lamento
melancólico do poeta, percebe-se influência dos nossos românticos saudosistas. O poeta
não foi apenas leitor de Olavo Bilac e Alberto de Oliveira; foi também apreciador da
poesia de Castro Alves e outros românticos.
Nesses poemas encontramos características regionalistas, envolvendo nomes da
política local, com a descrição da paisagem da região, marcada por traços saudosistas e
inspiração religiosa.
A religiosidade católica é reconhecida em poemas como A.S. Francisco de Assis,
Missa das cinco e Mater dolorosa, em que se presencia a evocação, a idealização e o
padecimento de Nossa Senhora:
De quanta invocação tendes, Senhora,
Nenhuma é para mim mais doce e humana,
Que esta em que minha crença vos exora,
Sob o peso da dôr que nos irmana.
Ao triste coração que pena e chora
Em meio às maguas desta lucta insana,
O vosso olhar balsamo puro irróra,
No pranto maternal que delle mana.
Nem da Glória na aureola em que vos vejo,
Do Paraizo entre o fulgor e o brilho,
De eólios côros ao suave harpejo,
É me tão grato ver-vos, mãe amada,
Como ahi, junto á cruz do vosso Filho
De sete espadas a alma traspassada!

A religiosidade evocada, através da figura da Mater dolorosa, não foge dos
padrões românticos. A idealização da santa também é motivo para o sujeito poético
poder dizer-se, evocar seu estado de espírito, manifestando sua fé.
A análise dos poemas compilados em nossa pesquisa possibilitou-nos concluir
sobre a importante influência dos periódicos na cultura literária de Mato Grosso, como
também sobre a orientação parnasiana e romântica que direcionou a produção
regionalista, resultante, como se mostrou, de fatores externos que conduziram a uma
inter-relação cultural, envolvendo o periódico, a religião e a poesia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário